Nem me informei direito, mas vi no UOL a chamada dizendo que o nosso presidente sancionou uma nova lei para os estagiários. Ótimo, porque "a nossa classe trabalhadora" tem muito poucos direitos, muito menos aqueles informais, aqueles de regimento interno. Estagiário não apita em nada. Estagiário nem se arrisca a dar dicas, criticar, lançar novas idéias, que normalmente são premiadas quando apresentadas por funcionários normais, já que podem acrescentar lucros à empresa. No nosso caso, a gente põe o rabo entre as pernas e traz o cafezinho como se estivesse em vermelho, sublinhado e em caps lock na nossa job description.
Não que eu esteja desabafando de um chefe crápula que me manda fazer as tarefas mais idiotas e me censura a cada deslize. Ao contrário, meu chefe é bem tranquilão e não fica me controlando. Somos só nós dois no escritório, já que somos meio que uma subsidiária da organização central. No dia-a-dia, a convivência não tem nenhum atrito e eu não me sinto pressionada. Mas semana passada tive que engolir um sapo e uma perereca.
A gente tinha ACABADO de conversar a respeito de concentração. Ele me contou que muitas vezes fica até umas 8 ou 9 da noite no escritório para resolver pendências pessoais, como contas, etc, já que os dois filhos pequenos em casa, além da esposa, acabam desconcentrando ou exigindo atenção que ele não pode dar no momento. Eu comentei também que eu não conseguia ler meus textos na casa do meu tio, onde estou morando temporariamente, já que a minha priminha de 2 anos fica brincando comigo. No ínterim de dois minutos, alguém começa a forçar a fechadura da porta, que estava trancada. Meu chefe levantou-se e foi abrir. Era a esposa dele e sua monstrinha.
Eu imagino que a fofa tenha uns 7 anos, aquela idade mais insuportável na vida de uma menina. Ela não queria me dar oi e se recusou a me dar tchau, com um NÃO bem sonoro, fechando a porta. Ela chegou dominando os 20 m2 do escritório. Encheu o saco do papai, encheu o saco da mamãe e sentou-se na minha frente, fazendo desenhos enquanto eu a ignorava solenemente. Birra atrás de birra, ela ficou uns 5 minutos choramingando para ir pra casa, enquanto mamãe falava que não era possível naquela hora. Se recusou a ajudar o papai a fazer a pesquisa que ELA deveria fazer pra escola e ficou falando o tempo todo com a mamãe, enquanto eu tentava continuar fazendo aquilo que eu tinha para entregar. Mergulhada no meu silêncio, esperei demonstrar que eu estava prestando muita atenção numa tarefa dificílima (como aquela dica do Joey, do Friends, que ensina a ficar com cara de preocupação: tente dividir mentalmente 746 por 6736). Missão sem sucesso, já que a digníssima esposa do chefinho ficava a cada 30 segundos fazendo um comentário ou pergunta em minha direção. Será que ela queria ser simpática? Será que queria descobrir se eu e chefinho fazíamos cerão juntos aqui no buro? Eu tentei ser simpática, mas monossilábica, ampliando minha estratégia de isolamento.
Nada parecia funcionar. Petiz continuava com birra, esposa continuava pentelhando chefinho com demandas pessoais, chefinho atendia os pedidos, birras e esperneios da filhota, demonstrando como NÃO disciplinar uma criança. Eu, quieta no meu canto, apenas podia fingir que aquilo tudo era suuuper normal para mim, que nenhum fio de cabelo meu saía do lugar numa pentelhice dessas.
Minha vingança foi sutil, mas aparentemente eficaz. Eu tinha comprado mais cedo um pacote de bolachas Calipso (aquelas cobertas com chocolate... deliciosas!) e deixado em cima da escrivaninha. O olhar da menina se direcionava a cada dois minutos para tal ímã. O que eu NÃO fiz foi oferecer uma bolacha para ela. Eu me contorcia de felicidade ao ver aquela boca cheia de dentes tortos fazer bico toda vez que via o pacote dourado em cima da mesa. MHUHUHUAUHAHAHAHUAHUHAUHAUHA (insira sonoplastia de risada malévola de desenho animado)
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
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2 comentários:
Em que andar fica o escritório? Não tinha uma janela de tamanho razoável por lá, não?
a janela é basculante. pelo tamanho da cintura roliça da mocinha, seria difícil mandar aquele saco de danoninhos voar.
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