sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Coisas da Hierarquia

Nem me informei direito, mas vi no UOL a chamada dizendo que o nosso presidente sancionou uma nova lei para os estagiários. Ótimo, porque "a nossa classe trabalhadora" tem muito poucos direitos, muito menos aqueles informais, aqueles de regimento interno. Estagiário não apita em nada. Estagiário nem se arrisca a dar dicas, criticar, lançar novas idéias, que normalmente são premiadas quando apresentadas por funcionários normais, já que podem acrescentar lucros à empresa. No nosso caso, a gente põe o rabo entre as pernas e traz o cafezinho como se estivesse em vermelho, sublinhado e em caps lock na nossa job description.

Não que eu esteja desabafando de um chefe crápula que me manda fazer as tarefas mais idiotas e me censura a cada deslize. Ao contrário, meu chefe é bem tranquilão e não fica me controlando. Somos só nós dois no escritório, já que somos meio que uma subsidiária da organização central. No dia-a-dia, a convivência não tem nenhum atrito e eu não me sinto pressionada. Mas semana passada tive que engolir um sapo e uma perereca.

A gente tinha ACABADO de conversar a respeito de concentração. Ele me contou que muitas vezes fica até umas 8 ou 9 da noite no escritório para resolver pendências pessoais, como contas, etc, já que os dois filhos pequenos em casa, além da esposa, acabam desconcentrando ou exigindo atenção que ele não pode dar no momento. Eu comentei também que eu não conseguia ler meus textos na casa do meu tio, onde estou morando temporariamente, já que a minha priminha de 2 anos fica brincando comigo. No ínterim de dois minutos, alguém começa a forçar a fechadura da porta, que estava trancada. Meu chefe levantou-se e foi abrir. Era a esposa dele e sua monstrinha.

Eu imagino que a fofa tenha uns 7 anos, aquela idade mais insuportável na vida de uma menina. Ela não queria me dar oi e se recusou a me dar tchau, com um NÃO bem sonoro, fechando a porta. Ela chegou dominando os 20 m2 do escritório. Encheu o saco do papai, encheu o saco da mamãe e sentou-se na minha frente, fazendo desenhos enquanto eu a ignorava solenemente. Birra atrás de birra, ela ficou uns 5 minutos choramingando para ir pra casa, enquanto mamãe falava que não era possível naquela hora. Se recusou a ajudar o papai a fazer a pesquisa que ELA deveria fazer pra escola e ficou falando o tempo todo com a mamãe, enquanto eu tentava continuar fazendo aquilo que eu tinha para entregar. Mergulhada no meu silêncio, esperei demonstrar que eu estava prestando muita atenção numa tarefa dificílima (como aquela dica do Joey, do Friends, que ensina a ficar com cara de preocupação: tente dividir mentalmente 746 por 6736). Missão sem sucesso, já que a digníssima esposa do chefinho ficava a cada 30 segundos fazendo um comentário ou pergunta em minha direção. Será que ela queria ser simpática? Será que queria descobrir se eu e chefinho fazíamos cerão juntos aqui no buro? Eu tentei ser simpática, mas monossilábica, ampliando minha estratégia de isolamento.

Nada parecia funcionar. Petiz continuava com birra, esposa continuava pentelhando chefinho com demandas pessoais, chefinho atendia os pedidos, birras e esperneios da filhota, demonstrando como NÃO disciplinar uma criança. Eu, quieta no meu canto, apenas podia fingir que aquilo tudo era suuuper normal para mim, que nenhum fio de cabelo meu saía do lugar numa pentelhice dessas.

Minha vingança foi sutil, mas aparentemente eficaz. Eu tinha comprado mais cedo um pacote de bolachas Calipso (aquelas cobertas com chocolate... deliciosas!) e deixado em cima da escrivaninha. O olhar da menina se direcionava a cada dois minutos para tal ímã. O que eu NÃO fiz foi oferecer uma bolacha para ela. Eu me contorcia de felicidade ao ver aquela boca cheia de dentes tortos fazer bico toda vez que via o pacote dourado em cima da mesa. MHUHUHUAUHAHAHAHUAHUHAUHAUHA (insira sonoplastia de risada malévola de desenho animado)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Tubo

Alguém me explica o por quê das pessoas numa megalópole como São Paulo não saberem que numa escada rolante elas devem manter-se à direita??? Em qualquer metrô do mundo existem zilhões de avisos pedindo para que as pessoas dêem passagem àquelas que estão com pressa para que possam andar pela esquerda, enquanto os tranquilos ficam parados na direita. Normalmente, as únicas pessoas que desobedecem essa regra universal são os turistas incapacitados de raciocínio e observação. Mas aqui, a prática não é divulgada. Por quê? Por quê????

Hoje tive que pegar o metrô correndo e fazer duas baldeações. Na primeira estação, tive que subir uma escada-rolante e um casal de meia-idade estava todo apaixonado e abraçadinho, contando cada segundo como o último de seu amor. Cheguei até eles e pedi licença. Eles se afastaram um do outro, num movimento estúpido, já que o correto seria um ficar na frente ou atrás do outro. "Abriram alas ", ao invés, fazendo com que eu e a minha mochila nos espremêssemos no meio deles, como se uma escada-rolante tivesse largura suficiente para três pessoas, um labrador, sacolas de supermercado e um par de esquis. Ao passar por eles, ainda tive que ouvir um "Nossa, que pressa!". UGH!

Cena número dois: na segunda baldeação, tive que descer a escada-rolante. Na minha frente, outra menina fazia a mesma coisa. Quando pudemos avistar a plataforma do metrô, vimos que um trem estava parado, de portas abertas, pronto para sair em alguns segundos. Pedimos licença para as duas senhoras fofoqueiras na nossa frente, que nos ignoraram solenemente nas TRÊS vezes que falamos com elas. Desnecessário dizer que ficamos apenas observando o trem abandonar a plataforma, enquando descíamos a ritmo de tartaruga.

A turma nunca aprendeu a fazer fila indiana na escola, não?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Lovin´ it up ´til I hit the ground

Mais uma acontecida do elevador "da firma":

Duas mulheres conversando sobre as dificuldades de um obeso no dia-a-dia, como inchaço nas pernas, dificuldade de passar por uma catraca, etc. Loira I fala pra Loira II:
"Mas você viu que agora tem assento especial para obesos no ônibus, né?"
Loira II em resposta: "Ai, mas eu acho errado. Acaba incentivando a ser obeso"

Claaaaaaaaaaaaaaaro! Como é que a Secretaria de Saúde não pensou numa coisa dessas??? Afinal de contas, a vida tá suuuper de boa pra quem tem obesidade mórbida! Agora, com as lojas de tamanhos grandes e seus vastos catálogos de roupas de ótimo gosto, com carros mais espaçosos parcelados em 72 vezes e com a cirurgia de redução de estômago do SUS, TODO MUNDO vai querer estar acima do peso! Imagine só a educação que as nossas crianças terão vendo uma pessoa que está sentada em seu banco especial no ônibus enquanto ela fica em pé? Ela vai mor-rer de inveja e se entupir de danoninho e chocolate ao chegar em casa pra poder também ter a honra de sentar-se na poltrona que tem o adesivinho colado.

E lógico que todas as pessoas gordas do mundo o são porque querem, porque não foram educadas alimentarmente, porque têm preguiça de fazer regime. Não existem disfunções hormonais, de tireóide, nem distúrbios alimentares psicológicos. Também é lenda que mulheres engordam durante a gravidez e dificilmente perdem os quilos adquiridos. Tudo isso é mi-to-lo-gia!

Muito sábias as pessoas deste prédio.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Motoca Fashion Week

Resolvi criar mais uma categoria de postagem: Fashion Police. É que a cena que eu acabei de presenciar não poderia ficar incólume: Peguei o elevador com um motoboy que estava trajando roupas de motoboy normal e um boné (atenção:) de lurex preto com a aba branca de crochê de barbante!! Assim, tão bizarro que não dá nem pra descrever/imaginar direito. Não adianta procurar no Google. Um exemplar desses deve ser único, para o bem da Humanidade!

NHAMMMM

Aliás, já que eu estou improdutiva no momento e fico escrevendo divagações, ao invés de fazer o que eu devo fazer, vou fazer um comentário que está engasgado há algumas semanas:

COMO O CHRISTIAN BALE É DELICIOSO!

Todo mundo comenta o Coringa no Batman, que o Heath Ledger é isso, é aquilo, blablabla. Também acho. Mas, PORRA! Que deus é esse? De onde veio? Pra onde vai que não à minha caminha??? Quase fui lamber a telona do cinema cada vez que o Bruce Wayne aparecia na tela (porque de Batman, com aquela voz de entrevistado anônimo do JN, não tem graça). Olha, eu já sabia da existência dele desde American Psycho (uótimo, alias, com várias cenas do corpinho dele no banho), mas não paro de babar desde o último Batman.



Christian Bale, NÓS TE AMAMOS. Vem pra cá, sem o pijaminha.

A maçã de Eva

Na esquina aqui da rua do estágio tem uma loja de doces, daquelas que vendem bolacha, chocolate, salgadinho e etc. beeem baratinho. Pra dar uma idéia, eles vendem Lindt por míseros R$ 8,50 (uma pechincha em comparação com o Pão de Açúcar, que cobra 5 realetas a mais). O cara do balcão vai me ver meio quilo mais gorda a cada dia e daqui a umas 3 semanas eu vou empacar na catraca do prédio.

Pergunta: como conseguem vender assim? Contrabando? Lindt paraguaio? Trabalho escravo? Quer saber, nessas horas minha consciência política/social cai por terra, junto daquele momento glorioso de comprar um vestido H&M por inacreditáveis € 5.... Abaixo às leis de mercado!!!!

PSIU!

Tem horas que eu queria ter uma pistola de chumbinho. Imagina o número de tirinhos certeiros na orelha de cada um dos DOIS fulanos que estavam anteontem na biblioteca à noite e que atenderam a porra dos respectivos celulares...

Vamos à analise dos fatos, num silogismo bastante simples:

- A biblioteca é um lugar de silêncio
- As pessoas vão à biblioteca para se concentrar melhor em seus estudos, já que não têm acesso à televisão, geladeira, atrativos em geral e o silêncio IMPERA
- Logo, Homo Sapiens que somos, devemos fazer silêncio dentro da biblioteca e manter, assim, a paz entre os povos, através do enriquecimento de nossos cérebros.

Mas poucos dos que estão no Ensino Superior foram alfabetizados de forma complexa, claro que por um descuido do nosso sistema de educação fundamental. Esses débeis tiveram o infortúnio de passar no vestibular sem ao menos conseguir juntar três sílabas que ficam estampadas em letras maiúsculas e em vermelho a cada duas paredes da biblioteca: SI-LÊN-CIO. Muito menos ler o texto que está ao lado, cujos dizeres são: Proibido usar celular- Lei nº 12345-67.

Por que essa corja de imbecis se dá ao trabalho de ir estudar na biblioteca? Faça a carteirinha, alugue quantos livros quiser e leve pra casa, onde você come miojo de balde enquanto assiste BBB. E os Homo Neanderthalis ainda forjam hipocritamente respeito e atendem ao celular com a mão na frente, piorando a situação, fazendo uma voz de Darth Vader.

Olha, enquanto não colocarem uma porta giratória com detector de metais naquela faculdade, penso seriamente em porte ilegal de armas de chumbo ou sal grosso. Não vai sobrar nem meia-orelha pros idiotas colocarem pírci.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Nessa bumba eu não ando mais II

Continuando o post antigo, hoje eu quase chamei o Hugo vindo para o estágio: um cara na minha frente, de terno, estava empossado de um cortador de unhas e fazia uso do mesmo. Eu comecei a ouvir uns tecs suspeitos e encontrei o bandido. E ele nem se deu o trabalho de coletar os seus restos epidermicos. Deixava as meia-luas voando pelo ônibus, e o resto que se foda.
Táqueupariu!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A arte de dividir um quarto com outras pessoas é um ensinamento transmitido através de gerações, aperfeiçoado com o tempo e dominado por poucos.

Quando eu era criança, até os 16, 17 anos, dividi quarto com a minha irmã. Eu achava meio chato não ter meu próprio espaço, nem mesmo quando eu apenas queria bater a porta na cara de alguém. Mas como eu vivi assim por anos, fui me acostumando a estabelecer horários e regras veladas para que uma não atrapalhasse a outra, como, por exemplo, quando eu comecei a estudar de manhã. Eu desligava o despertador rapidinho, levava meu uniforme já separado pro banheiro e não entrava mais no quarto. Quando a minha irmã começou a roncar algumas noites, um arremesso certeiro de travesseiro resolvia a questão. Fomos felizes assim e não nos matamos até hoje.


Acontece que há seres humanos que ainda não ouviram falar em Contrato Social, Estado de Natureza, Direto Natural, etc. Um belo dia, no ido século XVI, Hobbes escreveu no seu livrinho que as pessoas tiveram que estabelecer um contrato social para viver, tcharãããm, em sociedade e pararem de matar umas às outras. São as famosas leis que regem o nosso dia-a-dia, que nos impedem de fazer a nossa vontade, acima de todas as coisas.

Esclarecido isso, repito que algumas pessoas, depois de milhares de anos passados do surgimento das grandes civilizações, de todo o direito romano ter sido desenvolvido, de tantos códigos de ética terem sido elaborados, te tantas conferências internacionais de direitos humanos terem sido organizadas e assinadas, ainda insistem em viver numa anomia irritante. Não estou nem falando dos estrupadores, ladrões de galinha, políticos corruptos ou bêbados no volante. É algo mais fundamental: a boa educação. E aqui eu volto à questão do quarto:


Nos dois últimos fins-de-semana tive que dividir quarto, em duas viagens distintas. Na primeira, nós éramos 6 moços e moças em 2 triliches (cama, bicama, beliche). Por mim, sexo, cor, religião, tanto faz. Pode até gostar de pagode, eu divido o quarto com você. Só não vale avacalhar na convivência. Uma bela noite eu fui pegar algo no quarto e reparei que alguém tinha deixado NADA MAIS, NADA MENOS do que a toalha molhada em cima da minha cama. Fui perguntando a um por um dos meus coleguinhas se a ele pertencia a toalha salmon. Descobri que era da menininha da turma, uma tanajura que faz chapinha em sítio e usa bota pata-de-bode. Além do esculacho que eu dei nela, já que minha cama ficou úmida, ainda passei as regras de convivência do quarto pra ela, como fechar a porta sempre, pra não entrar bicho. Mas a aprendiz de Mulher Melancia não conseguiu fazer a interface entre Tico e Teco e, depois da balada, chegou de madrugada no quarto, quando alguns (eu) já estavam dormindo e entrou e saiu 200 vezes do banheiro, que, vale lembrar, tinha uma porta que rangia muito. Ela foi fazer xixi, entrou e saiu. Foi escovar os dentes, entrou e saiu. Esqueceu o cérebro e foi buscar, entrou e saiu. Cacete! É tão difícil fazer silêncio?

Já no fim-de-semana passado, o drama foi dividir quarto com outras 3 mulheres, todas acima dos 23 anos, eu presumo. Se tem alguém que poderia ter sido infantil na situação, sou eu. Primeiro que nós chegamos à 1:30 da manhã no lugar. Eu já tinha capotado no carro e só queria saber de cama. Mas a turma ogra chegou com fome e ainda foi comer pizza. Conclusão: eu fui pro quarto sem comer, arrumei a cama e tentei dormir, enquanto o Encontro Anual de Gazelas, Quero-Queros e Hienas acontecia no andar de baixo. Lóóóógico que ninguém se preocupou em arrumar a cama antes de se entopir de muçarela. Então o óbvio acontece: eu fui dormir no mesmo horário que as lindonas, às 3 da manhã, não antes de me revolver debaixo das cobertas enquanto elas arrastavam cama, beliche, abriam armário, sacodiam cobertor, abriam a necessaire (ODEEEEEEEEIO barulho de zíper e saquinho plástico quando eu to tentando dormir)... Ao invés de fazer tudo isso na maior discrição, as queridonas ficaram papeando! Parece que eram proibidas de conversar o dia todo! E não só nesse momento: todos os dias, antes de dormir, era aquele papo suuuper interessante da opinião delas sobre o filme Um Amor pra Recordar (IUUUUC MASTER) ou se o namorado tal ligou. Mas ainda pior, minha gente, elas conversavam ao acordar!! Sim!! Quando uma acordava, levantava e ia fazer xixi/tomar banho/passar Embelleze nos cachos, as outras começavam a conversar. Mas não era sussurro. Era conversa mesmo, num tom de voz que você conversa na balada, enquanto o DJ deixa todo mundo surdo.

Ah, fora que uma das fias ainda jogou suas roupas em cima da minha mala. Compra uma pra ti, benhê!

Eu fiquei invisível e não tô sabendo. As pessoas ignoram meu sono e meu espaço solenemente. Sem contar que, nos dois casos, uma sinfonia de britadeiras tomou conta dos quartos. Gentem, ronco TEM cura. Meu pai fez a tal cirurgia, o seguro pagou e minha mãe recuperou a alegria de viver. Outro apelo: o box do banheiro não é piscina! E seus cabelos não são enfeite na tampa da privada! E pasta de dente que gruda na pia sai se você passar uma água! Juro, é fácil assim.

A quem estiver disposto a se converter às boas maneiras, eu me comprometo a enviar uma brochura ilustrada. Autografada.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Estúpido Cupido

Vê se pode:

tô fazendo um estágio novo e ainda não me decidi onde almoçar. Como ando na fase de pesquisa de restaurantes, hoje fui num quilo a uma quadra do escritório. Fiz tudo direitinho, como uma moça bem-comportada deveria fazer de acordo com o Manual da Misantropia para Situações Novas. Peguei, pesei e sentei. Como era ainda relativamente cedo, o restaurante não estava lotado e eu sentei numa mesa de quatro lugares perto da TV. Fiquei ruminando minha saladinha, concentrada ora no meu prato, ora no Bandsports. Não me recordo de ter olhado ninguém nos olhos, exceto os 47836 garçons que vieram perguntar se eu queria algo pra beber (odeio garçom que repergunta. Tema pra outro post). Também não me sentei diretamente à frente, ao lado ou no colo de nenhum espécime do sexo masculino. Não dei oizinho, não dei tchauzinho e não tive nem mesmo que arrastar a minha cadeira pra alguém passar.

Pois bem, ao terminar a minha refeição, ajeito meus talheres no prato e minha linguagem corporal denuncia que eu queria me levantar. Neste instante, chegou um dos milhares de garçons e me entregou um guardanapo dobrado, dizendo "Mandaram entregar". Antes mesmo de notar o ponto de interrogação carmim-motel piscante na minha testa, ele foi atender outras mesas. Abri o tal do guardanapo e encontro um nome e um número de telefone. Por alguns segundos, tentei identificar que nome estava escrito, mas não entendi mesmo. Só o número está legível. Aí pensei: o que se passa na cabeça de uma pessoa dessas? Será que eu tenho cara de puta que vai ligar pra qualquer telefone que aparecer na minha frente pra marcar encontro? Será que ele acha que com aquele garrancho eu vou sair me arrastando pelo chão, de cinta-liga e batom vermelho, lambendo seus pés? Será que ele era analfabeto e não sabe escrever nem um "Oi, linda, aceita uma breja?" e, em sua analfabetice funcional, aprendeu a rabiscar o próprio nome e o número da firma? Ou, pior, será que era alguém em busca de socorro emocional e me achou com cara de CVV?

Em todo caso, fiquei com vergonha alheia e resolvi sair e pagar sem olhar pra trás. Só que uma idéia perambula pela minha cabeça: vou ligar pro tal número, perguntar pelo sr. Garrancho, e... aceito sugestões! (sejam maldosos!!!)

Papagaio

Se tem uma coisa que me irrita são os vícios de linguagem. Eu, nos meus idos 14 anos, já tive aquela mania do "tipo assim". Eita coisa grudenta! Demandei algum esforço e , dentro de semanas, estava livre do mal que me acometia.

Mas, porém, contudo, todavia, entretando, tem gente que ainda não aprendeu que ficar repetindo a mesma palavra, expressão, gíria ou interjeição NÃO é legal.

Outro dia eu estava vendo um programa na MTV (!) onde uma menina de cabelos cor-de-rosa-fosforecente entrevistava uma atleta da equipe de hipismo brasileiro. Foi um grande festival de pobreza de vocabulário! A rosinha insistia em começar suas perguntas com "Tipo, você blablablá", "Mas tipo, não rola blablablá?". Pó pará! Esse poço de cultura foi escalado pra ter o próprio programa? Ah, é. Eu esqueci que tem uma turma que adora um miguxês e deve pedir pro cabelelero (sic) pintar as melenas "igual às da moça da MTV" (sic reloaded).

Enfim, não bastasse a aprendiz de Tamagoshi ter quebrado o botão do "Tipo", a entrevistada (uma menina de uns 18, 19 anos, paty dos cabelos chapinhados até dizer "Espiga!") colocou na vitrola o disco do "Assim". Juropeloraioquemeparta que a menina colocava um "assim" a cada cinco palavras em uma frase! Caramba! Era um tal de "Assim, o cavalo tem, assim, uma alimentação especial, assim, quando ele vai competir" ou "Mas, assim, quando vai dar o salto, assim, tem que estar muito concentrada". Cazzo! Isso que dá tirar filho da escola pra ganhar o 28º lugar na prova do tambor. Mas, assim, com aquele jeans apertadinho e gloss transparente, o futuro da Lolita já está garantido, tipo, com um cara suuuuuper bem-sucedido!

Fosse só esse meu problema, seria fácil de resolver: desligar a maldita televisão. Mas o que um cidadão de bem, como eu, faz quando a repetição é inevitável???

Eu costumava ir à depilação no Itaim. Lá tinha uma depiladora, acho que se chama Helô, que tinha como mania ficar repetindo o nome da cliente. Como não há nada mais constrangedor do que ficar de calcinha e sutiã em cima de uma maca besuntada de cera até no ouvido, o papo de biombo de depilação é tradicional. Mas a tal da Helô sempre dá um jeito de falar seu nome como se trouxesse sorte, dinheiro ou sabedoria. "Sabe, Mary, a gente busca um companheiro fiel, né, Mary, que seje (sic) carinhoso... Olha, Mary, dobra a perna assim de lado. Isso, Mary!". PUTAQUEOPARIU! Eu não preciso de auto-afirmação. Vai ver que é um exercício dela pra não esquecer de colocar o nome certo na comanda. Grandesbosta. Mas a cereja do bolo foi quando a minha então roommate foi se depilar pela primeira vez com a Helô. Papo de namorado, aquela coisa. A tal da depiladora, em meio aos seus "É, Fulana, a vida é difícil, Fulana", solta: "não abra mão dos seus sonhos", numa metáfora bizarra de abrir as pernas. Pode?

Todo esse brainstorming porque eu tava anteontem à noite, no ônibus, voltando pra casa, sacolejando naquilo que melhor seria definido como pau-de-arara, quando um homem começa a berrar no celular. Ele teve algum problema com o dinheiro que ele emprestou pra uma tal de Sheila. Não bastasse o mau-humor absurdo do sujeito, ele repetia o nome da moça umas 387483974 vezes em cada frase, algo como: "Sheila, que papéis, Sheila? Eu não pedi pra você pegar esses documentos, Sheila. Sheila, você não tá entendendo, Sheila. Você me paga, Sheila, e aí a gente tá resolvido, viu, Sheila?".

GRRRRRRRRRRRR! Se fosse pra ouvir CD riscado, eu colocaria um do Hanson no CD Player do meu carro e ainda não seria aporrinhada por um imbecil que, além de se denunciar como o maior bocó que levou um calote do caramba, não sabe da existência do limite de cotas pelo uso de uma palavra (nome) só. Tipo assim...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Mens@gem para você!

Querida professora, querida secretária da faculdade,

eu gostaria de apresentar-lhes uma ferramenta maravilhosa e vanguardista da comunicação, que promete tornar a vida de toda a população mundial mais ágil e barata. Ela é uma mensagem instantânea e independe de terceiros para ser enviada. Centenas de milhões de usuários do mundo todo testaram e aprovaram este serviço que é, na grande maioria dos casos, gratuito. Com vocês, senhoras, o E-MAIL!

Explico: e-mail é uma mensagem eletrônica enviada através do sistema de computadores chamado Internet. Tal ferramenta é utilizada por todos os alunos da faculdade, obrigatoriamente, já que certas informações só são enviadas virtualmente. Mais barato e prático que cartas ou telefonemas, a mensagem de e-mail pode ser enviada simultaneamente a uma infinidade de destinatários. No caso da minha turma da aula de hoje, são apenas cerca de 20 alunos. Como supracitado, todos nós temos acesso à Internet, seja em casa, no trabalho ou mesmo na faculdade, que disponibiliza seus laboratórios de informática para todo aquele que precisa se conectar ao mundo moderno.

Acredito que as senhoras, assim como nós, possuem acesso a um computador com banda larga, já que são funcionárias da faculdade. O ato de desmarcar uma aula, mesmo na véspera, poupa dezenas de alunos - que, como eu, leram o texto, responderam às perguntas, acordaram cedo (independente do horário que foram para a cama), pegaram condução (ou trânsito de carros) e chegaram à aula pontualmente - a receber um recado em cima da hora.

Tenho absoluta certeza da preocupação das senhoras com o nosso bem-estar e não creio que os motivos dessa excepcional e inédita conduta tenham sido desorganização, descaso, muito menos irresponsabilidade. Todas as senhoras são profissionais competentíssimas e devem estar apenas desavisadas das maravilhas modernas.

Sendo assim, gostaria humildemente de pedir abono das minhas faltas nas primeiras semanas do semestre, já que, na prática, faltei na mesma frequência que a professora. Prometo não pedir um atestado médico da senhora docente, afinal, somos todos idôneos nesta casa do conhecimento.

Atenciosamente,

Aluna da terceira fileira, carteira do meio.

Post scriptum: eu tenho troco pra R$ 5, caso as senhoras não tenham trocado para reembolsar o meu Bilhete Único.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Humor cáustico

A tchurma anda abusando mais do que o normal do meu estoque de paciência. Onde já se viu:

Eu estava no caminho do estacionamento com dois amigos meus hoje, às 11 da manhã. Papo vai, papo vem, senti um gosto horroroso na boca ao passarmos em frente a um prédio. Comecei a ter um acesso horroroso de tosse, enquanto meus amigos se questionavam que coisa era aquela. Vimos que um fulano assassino estava soltando um jato de alta pressão na calçada por onde passamos. Meus amigos falaram para eu me afastar e eu fiquei expelindo meu pulmão na sarjeta. Quando vi, um dos meus fiéis escudeiros foi discutir com o infeliz. O tal líquido usado pra limar a linda calçada do flat era ÁCIDO.

Pára tudo! Em plena luz do dia, ponto de ônibus abarrotado de estudantes, o cara resolve deixar a sua parte da calçada brilhando como Rá??? Meu amigo se emputeceu e foi falar com o síndico. Sua resposta? "Vamos passar uma água". Minha resposta? "Eu mando a conta do hospital".

Como eu já estou aparentemente com uma alergia adquirida nas férias, o que tem acabado com meu sistema respiratório, o contato com a substância ácida me fodeu completamente. Meus amigos foram afetados nos olhos e nariz.

Moral da história: ligamos pra polícia, mas não pudemos esperar. Amanhã eu volto ao prédio e falo umas boas verdades pro síndico filho-de-político. E, depois de me informar direitinho, denunciá-lo para a secretaria do meio-ambiente ou na vigilância sanitária. Quero ver se o cara vai voltar a fazer peeling de graça na rua...

Cavaleiro das Trevas

Compro escopeta com mira de laser e alcançe de 200m para assassinar o infeliz de falo retraído que pegou a sua Harley Davidson hoje de madrugada e foi dar uma voltinha pelo bairro, sem antes trocar o seu escapamento pelo de um carro supersônico.

Pago bem também aquele que trouxer a sua moto arranhada com os dizeres PSIU!- Decreto 34.569 de 06 de outubro de 1994.

E bons sonhos aos homens de boa vontade!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Prazer, meu nome é Jó

Hoje eu tenho uma história maniqueísta pra contar. O Bem e o Mal estavam na mesma fila de supermercado comigo.

A dez minutos do começo do maravilhoso Batman, eu resolvi ser esperta e comprar uma coca e um guaraná no supermercado, para não pagar os extorsivos preços da lojinha do Cinemark. O Carrefour tava vazio, tranquilo, e eu consegui levar meus objetos de desejo ao caixa em tempo record. Na minha frente havia outros 3 clientes. Tudo bem eu estava com uma folguinha, não me deixei atingir pela pressa. O cara lá na frente estava fazendo uma compra grande. Terminou, pagou, beleza. Foi quando o Bem se manifestou: a moça que estava na minha frente, com uma compra média já colocada na esteira, percebeu que eu tinha apenas dois volumes na mão. Num surto de gentileza nunca visto dantes na cidade de São Paulo, ela ofereceu para eu passar na sua frente. Agradeci de todo o meu coração, já que o tempo estava correndo e a caixa não agilizava muito. Na minha frente então estavam dois homens que queriam pagar uma conta. A caixa conseguiu demorar incríveis 5 para debitar tal conta. Aí o Mal se manifestou. A caixa, um ser despreparado pela Rede Carrefour, pegou a nota de R$50 do moço, ajeitou o troco que o devolveria e no fim de sete luas, perguntou se ele não teria 30 centavos. É pegadinha, né? Ela é treinada pra estourar pontes de safena, eliminar cortizol no sangue, provocar queda de cabelo dos clientes.

Eu tive que olhar pra trás e fazer contato visual com o Bem, como me desculpando por ter aceitado a oferta de passar na frente dela, o que tirou cerca de um outono de sua vida. Já pra não demorar mais do que o necessário, nem paguei no cartão. Dei R$10 pra moça, ela apertou todas as teclas do teclado dela, apareceu o troco na tela e tudo o mais e ela faz a mesma pergunta imbecil: tem 30 centavos?

Pra dar uma idéia da minha impaciência, eu nem reclamei dos dois centavos que o Carrefour abocanhou do meu troco. Saí sem olhar pra trás. Não poderia ouvir um "Obrigada e volte sempre" do Mal.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Preguiçaaaaaaa

Tá o pôr-do-sol mais lindo do mundo lá fora e eu tenho que terminar de ler um texto absolutamente sacal pra amanhã. Em meio-segundo, já que daqui a pouco tem faculdade de novo...

Eu quero ser Dorival Caymmi e criar raízes numa rede...
Eu estava hoje no elevador, deliciando a solidão e o silêncio que os 14 andares me permitem, quando entram uma mãe e dois filhos, um de 10 e outro de 3 (chutes, lógico). O menor falou o tempo todo suas gracinhas e pediu pro irmão mais velho segurar uma das gigantes pastas com seus desenhos, já que estava cambaleando com um peso que deveria ser maior que o seu próprio. O pré-aborrecente se limitou a dizer "Peraí" e ficou ajeitando a franja semi-emo debaixo do boné, inclusive na frente da orelha, mais ou menos como a foto abaixo:



Mas não foi uma ajeitadinha assim, que nem cachorro e homem com H fazem, aquela chacoalhada. Foi minuciosa, alisando as melenas pra ficarem do jeitinho que as "mina da aula de inglês pagam pau".

E ainda tem professor de colégio que fala pros seus alunos que eles serão a "elite dominante deste país". Socorro, Nostradamus!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Em tempos de Lei Seca, quem vai ao almoço em família com o pai de motorista é rei!
Pode me chamar de piegas, mas eu borro todo dia a maquiagem quando eu assisto Extreme Makeover no People+Arts. Mas o que me dá mais pena em relação às pobres famílias é terem que aguentar o insuportável do Ty e sua energia irritante. Alguém, pelamordedeus, esqueça o cara dentro da casa na hora da demolição! E rolo compressor naquele megafone dele! Djá!

Putices acadêmicas

Meu querido professor da aula de HOJE à noite mandou um roteiro de perguntas HOJE à tarde, com 15 questões sobre o texto.

Não dá vontade de colocar no colo e fazer cafuné até assar a careca dele???