sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Papagaio

Se tem uma coisa que me irrita são os vícios de linguagem. Eu, nos meus idos 14 anos, já tive aquela mania do "tipo assim". Eita coisa grudenta! Demandei algum esforço e , dentro de semanas, estava livre do mal que me acometia.

Mas, porém, contudo, todavia, entretando, tem gente que ainda não aprendeu que ficar repetindo a mesma palavra, expressão, gíria ou interjeição NÃO é legal.

Outro dia eu estava vendo um programa na MTV (!) onde uma menina de cabelos cor-de-rosa-fosforecente entrevistava uma atleta da equipe de hipismo brasileiro. Foi um grande festival de pobreza de vocabulário! A rosinha insistia em começar suas perguntas com "Tipo, você blablablá", "Mas tipo, não rola blablablá?". Pó pará! Esse poço de cultura foi escalado pra ter o próprio programa? Ah, é. Eu esqueci que tem uma turma que adora um miguxês e deve pedir pro cabelelero (sic) pintar as melenas "igual às da moça da MTV" (sic reloaded).

Enfim, não bastasse a aprendiz de Tamagoshi ter quebrado o botão do "Tipo", a entrevistada (uma menina de uns 18, 19 anos, paty dos cabelos chapinhados até dizer "Espiga!") colocou na vitrola o disco do "Assim". Juropeloraioquemeparta que a menina colocava um "assim" a cada cinco palavras em uma frase! Caramba! Era um tal de "Assim, o cavalo tem, assim, uma alimentação especial, assim, quando ele vai competir" ou "Mas, assim, quando vai dar o salto, assim, tem que estar muito concentrada". Cazzo! Isso que dá tirar filho da escola pra ganhar o 28º lugar na prova do tambor. Mas, assim, com aquele jeans apertadinho e gloss transparente, o futuro da Lolita já está garantido, tipo, com um cara suuuuuper bem-sucedido!

Fosse só esse meu problema, seria fácil de resolver: desligar a maldita televisão. Mas o que um cidadão de bem, como eu, faz quando a repetição é inevitável???

Eu costumava ir à depilação no Itaim. Lá tinha uma depiladora, acho que se chama Helô, que tinha como mania ficar repetindo o nome da cliente. Como não há nada mais constrangedor do que ficar de calcinha e sutiã em cima de uma maca besuntada de cera até no ouvido, o papo de biombo de depilação é tradicional. Mas a tal da Helô sempre dá um jeito de falar seu nome como se trouxesse sorte, dinheiro ou sabedoria. "Sabe, Mary, a gente busca um companheiro fiel, né, Mary, que seje (sic) carinhoso... Olha, Mary, dobra a perna assim de lado. Isso, Mary!". PUTAQUEOPARIU! Eu não preciso de auto-afirmação. Vai ver que é um exercício dela pra não esquecer de colocar o nome certo na comanda. Grandesbosta. Mas a cereja do bolo foi quando a minha então roommate foi se depilar pela primeira vez com a Helô. Papo de namorado, aquela coisa. A tal da depiladora, em meio aos seus "É, Fulana, a vida é difícil, Fulana", solta: "não abra mão dos seus sonhos", numa metáfora bizarra de abrir as pernas. Pode?

Todo esse brainstorming porque eu tava anteontem à noite, no ônibus, voltando pra casa, sacolejando naquilo que melhor seria definido como pau-de-arara, quando um homem começa a berrar no celular. Ele teve algum problema com o dinheiro que ele emprestou pra uma tal de Sheila. Não bastasse o mau-humor absurdo do sujeito, ele repetia o nome da moça umas 387483974 vezes em cada frase, algo como: "Sheila, que papéis, Sheila? Eu não pedi pra você pegar esses documentos, Sheila. Sheila, você não tá entendendo, Sheila. Você me paga, Sheila, e aí a gente tá resolvido, viu, Sheila?".

GRRRRRRRRRRRR! Se fosse pra ouvir CD riscado, eu colocaria um do Hanson no CD Player do meu carro e ainda não seria aporrinhada por um imbecil que, além de se denunciar como o maior bocó que levou um calote do caramba, não sabe da existência do limite de cotas pelo uso de uma palavra (nome) só. Tipo assim...

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